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Renan acusa Lira de idealizar orçamento secreto e distorcer uso de emendas
Senador afirma que modelo concentrou recursos e criou ambiente de impunidade
O senador Renan Calheiros (MDB-AL) voltou a criticar o ex-presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL), a quem classificou como o “ideólogo do orçamento secreto”, ao comentar o avanço de investigações da Polícia Federal sobre o uso de emendas parlamentares. Em entrevista ao programa Ponto de Vista, da revista Veja, Renan afirmou que o mecanismo consolidado nos últimos anos transformou parte do Orçamento da União em instrumento de poder político, com impactos diretos sobre a transparência e o controle dos gastos públicos.
Segundo o senador, Lira teria concentrado recursos de forma desproporcional e utilizado o sistema de emendas para estruturar uma rede de influência. Como exemplo, citou a destinação de verbas para projetos de robótica educacional, caso em que, segundo Renan, 87% dos recursos teriam sido enviados para Alagoas, episódio posteriormente anulado pelo Supremo Tribunal Federal. Para o parlamentar, a ausência de consequências reforçou a percepção de impunidade. “Ele acredita na impunidade porque tudo o que fez acabou não tendo consequência”, declarou.
Renan afirmou ainda que o modelo de emendas, existente antes do governo Jair Bolsonaro, foi ampliado durante a gestão passada com aval político da Câmara dos Deputados. De acordo com ele, o resultado foi a multiplicação de obras inacabadas e suspeitas de irregularidades em diferentes regiões do país. “São mais de R$ 50 bilhões gastos com obras fantasmas, que começam, consomem dinheiro público e nunca terminam”, disse, mencionando municípios onde sequer há identificação das obras executadas.
O senador também criticou o que chamou de blindagem política promovida pela Câmara sob a liderança de Lira, afirmando que decisões internas dificultaram investigações e protegeram parlamentares. Para Renan, esse ambiente contribuiu para a sensação de que determinados agentes públicos estariam acima da lei, o que, segundo ele, exige punições exemplares, sobretudo em um cenário de restrição fiscal. Ao comentar o cenário político em Alagoas, Renan avaliou que o poder acumulado por Lira em Brasília não tem se convertido em força eleitoral no estado. Segundo ele, derrotas recentes em disputas majoritárias indicariam limites ao apoio popular do ex-presidente da Câmara. “O poder institucional não se converte automaticamente em voto”, afirmou.
Renan concluiu defendendo o aprofundamento das investigações como forma de corrigir distorções no uso do orçamento público. Para ele, o país não pode naturalizar práticas que, em suas palavras, “tomaram de assalto o Orçamento da União”, e os responsáveis devem responder por eventuais irregularidades.



